Ah amamentação...
Sempre tive medo dela, pavor, pra ser mais sincera. Até mais
do que do próprio parto.
Sentia muita sensibilidade nos seios e isso me apavorava,
ainda mais em pensar que um bebê faminto me solicitaria de hora em hora.
Durante a gestação, conversei sobre esse medo e pavor com a
minha super doula Valentine. Ela, sábia e tranqüila como sempre, me disse “Você
terá que buscar informações e se empoderar assim como fez com relação ao parto”.
E ok, fui buscar informações e me empoderar também na amamentação.
Nesse tempo, pessoas me contavam mitos e lendas sobre como
preparar o seio para amamentar. Eu aprendi que não há “preparo”. Casca de
banana, passar bucha, fazer bico e etc, não, não, nããããooooo. Esses mitos pra
mim, se equiparam aquele lance de manga com leite, não lavar cabelo durante os
40 dias do resguardo e blá blá blá. Haja habilidade, tipo Matrix (o filme), pra
se desviar dessas coisas aí.
O que ajuda a se preparar? INFORMAÇÃO. Onde achar?
Conversando com profissionais atualizados, lendo e estudando materiais
atualizados, entrando em grupos de discussão sobre amamentação e tem um
perrrrfeito chamado GVA (Grupo Virtual de Amamentação), também conversando com
mães que amamentaram seus filhotes até os 6 meses pelo menos.
Muito que bem, Duda nasceu e logo depois ela quis abocanhar
o seio, tanto que contei no relato de parto que isso ajudou a dar contrações
para que a placenta também pudesse nascer. A minha parteira, Alana, me ajudou
nesse primeiro momento, colocando o bico do meu seio na boquinha da Duda. Ardeu
gente, como ardeu. Lembro que eu falava:
- “Au au au hummmmm”.
Ok, toda a equipe foi embora após o parto e eu pensava:
- “Meu Deus será que eu vou dar conta de amamentar essa
menina? Será que eu sou capaz?”.
Ao mesmo tempo eu pensava:
- “Eu consegui parir, sou mulher, sou a máquina humana mais
perfeita que Deus poderia fazer, então eu posso sim, vou conseguir e a Duda vai
ajudar”.
As próximas duas semanas foram muito decisivas para que eu
conseguisse amamentar.
Primeiramente decidimos que não iríamos receber visitas no
primeiro mês e que gostaríamos de viver nossa “Lua de Leite” (sabe aquele lance
da lua de mel que o casal quer ficar sozinho? Entãããão, éramos nós com a nossa
Duda). Essa foi a primeira decisão mais acertada que tivemos para o sucesso da
amamentação. Muitas pessoas se ofenderam, acharam frescura, ficaram chateadas e
infelizmente não pude e não vou fazer nada quanto a isso hahahahahahahahahaha azar
de quem ficou de biquinho e obrigada aos amigos e parentes que compreenderam e
nos respeitaram, nos dando esse tempo precioso.
Precisávamos desse tempo pra estabelecer a amamentação, pra
estabelecer meu vínculo com a minha filha, pra tentar entender a complexidade
dessa primeira fase da amamentação. Poder colocar o seio da boca dela e
verificar se estava correto, sem pensar no tempo gasto pra isso. Fazer careta e
não verr caras de reprovação, chorar de dor sem incomodar ninguém, não ter que
agüentar milhares de pitacos, ter meu marido só pra nós e superar também esse
momento que não é fácil pra maioria das mulheres.
Todas as vezes que eu percebia que a Duda estava ficando
novamente com fome, eu começava a chorar. Sabia que ia doer, que eu teria que
agüentar. Meu seio em momento algum teve fissura, nem sangrou, nem o leite
empedrou e também não tive mastite até o momento. Meus seios eram sensíveis
mesmo, e o movimento de sucção da Duda, me fazia sentir como se estivesse
levando beliscões fortes nos bicos.
Em todos os momentos eu tive ajuda do meu companheiro de vida,
o Du. Ele segurava a minha mão, me dava água (sempre me manteve hidratada e até
hoje ele traz uma garrafinha d’água pra mim), me colocava numa posição
confortável, me protegia de comentários e pitacos totalmente desnecessários e
nunca pedidos. Várias vezes ele segurava a Duda, pra que eu pudesse me
concentrar e não desistir de amamentar.
As únicas pessoas que sabiam na íntegra o que estava
acontecendo era o Du, Valentine e eu. Não abri pra outras pessoas, porque a
primeira coisa que ouviria seria “Pra que sofrer? Dá logo uma mamadeira pra
essa menina. Eu fiz isso, a prima da amiga do cavalo do bandido também e
ninguém morreu, ta tudo saudável”. Eu hein, sai pra lá. Sofrer sozinha,
obviamente não é a solução, mas a minha rede de apoio estava bem fortalecida.
Eu tinha uma doula magnífica que me tirava várias dúvidas via whatsapp e um
marido que me apoiava e sabia que aquele era o meu sonho e o melhor alimento
pra nossa filha.
Valentine me ensinou que deixar a água quente do chuveiro
bater direto nos seios, aumenta a produção de leite e isso não era legal para
aquele momento. Também me ensinou como verificar se a Duda estava fazendo a
“boca de peixinho” (pega correta) e se não estivesse, me ajudou a aprender como
retirá-la do seio, sem que ela esticasse fazendo tipo chiclete. Também me deu
dica de que seria legal nesse início não amamentar em frente a televisão ou com
o celular na mão, pois isso atrapalharia a formação do vínculo com a minha
neném. Me ensinou como massagear os seios quando estivessem muito cheios, nada
daquelas manobras horrorosas que fazem por aí, que eu tinha verdadeiro pavor.
Ela sempre dizia “seja gentil com seus seios, massageie com carinho”. Ahhh
Valentine, nenhum dinheiro do mundo, pagaria esse seu trabalho. Se as mulheres
soubessem como isso é precioso. Vale muito mais do que aquela roupinha
carérrima de saída de maternidade. Mas tudo é uma questão de valores.
Du, palavras são meras palavras, perto do sentimento de
gratidão que tenho por tudo o que você fez nesses últimos 6 meses. Há momentos
que tenho vontade de te matar, é bem verdade kkkkkkkkk mas voltemos ao assunto
do relato. Você foi a pessoa essencial pra que esse processo todo fosse menos
penoso. Como diz a música “como sempre estou, mais do seu lado que você”, e
essa verdade se aplica também na amamentação. Não posso imaginar o quão difícil
foi pra você me ver chorando, me ver soluçando, me ver com dor e mesmo assim
dizer “Você consegue, só mais um pouquinho, ta tudo indo bem. Quer água? Você
está confortável? Relaxa seus pés, deixa que eu te ajudo, ficar tensa vai fazer
seu corpo doer”. Deus sabia que eu precisaria de você e te capacitou. Obrigada
por acreditar que eu era e sou capaz disso. Obrigada por ter escolhido me
apoiar, obrigada por me proteger dos pitacos de pessoas sem conhecimento.
Passadas as primeiras duas semanas, as dores foram
diminuindo, fui sentindo cada dia mais prazer nos momentos da amamentação. A
partir do momento que “saímos para o mundo”, na convivência com outras pessoas,
fui ouvindo gente duvidando da minha capacidade de amamentação, mas também
ouvindo gente dizer que amamentar é o ato de amor mais lindo do mundo. Gente me
olhando de cara feia, porque nunca quis colocar “paninho” pra esconder que
estava amamentando (essa foi uma escolha MINHA). Gente que me olhava com cara
de ternura, demonstrando amor por aquele momento lindo.
Enfim, fácil não é, mas é possível. Não senti prazer no
começo, mas insisti e persisti.
Não deixei e não deixo ninguém minar a confiança que tenho
no corpo perfeito que Deus fez. Pedia o tempo todo pra Ele me capacitar, pra
Ele me ajudar, porque eu sabia que era capaz de amamentar.
Posso dizer que sou imensamente feliz por ter escolhido
amamentar a Duda exclusivamente no seio. Vivi momentos maravilhosos de alegria
quando ela se jogava pra trás exausta de tanto mamar, ou quando se escondia
debaixo do seio. Hoje estou vivendo aquela interação gostosa em que ela mama,
olha pra mim, põe a mão na minha boca, sorri e me lança olhares de ternura.
Todo aquele sofrimento inicial valeu a pena, não tenho duvidas.
Por agora começaremos uma nova fase, a introdução alimentar.
Estou orgulhosa de mim por ter conseguido e com sentimento estranho porque
minha bebê ta crescendo rápido e eu já vou começar a chorar...
Pronto parei, voltemos.
Informação gente, informação é tudo na vidaaaaa.
Procure pessoas pra te ajudar, pra te impulsionar, pra te
apoiar, pra te auxiliar.
Homens, companheiros, parceiros, pais, vocês são uma das
ferramentas essenciais pra que a mãe do seu filho consiga amamentar. Apoie, busque
ajuda, a proteja de algumas pessoas, não duvide da capacidade da sua mulher,
invista tempo e dinheiro nisso.
A vocês que cercam mulheres que estão tentando amamentar ou
que já amamentam, por gentileza guarde os comentários toscos pra vocês, nenhuma
mãe quer e nem precisa saber. Se você não tem nada de bom pra falar, se cale
(até o louco quando se cala, se passa por sábio). Quer saber quais comentários
toscos? Esses:
- xiiiii será que tem leite nesses seios pequenos aí?;
- ahhhh essa criança ta com fome, seu leite não é
suficiente;
- seu leite vai secar se essa criança demorar pra mamar;
- esse neném tem fome demais, dá um “complementozinho” e
você terá paz;
- deixa eu ouvir se tem leite descendo pela garganta dele
mesmo;
- você tem que se cobrir, que falta de vergonha na cara
expor seus seios;
Nuuuu são tantos os comentários, vou parar por aqui.
A você mãe que não conseguiu amamentar por N motivos, toda
minha empatia e carinho.
A você mãe que está tentando e está difícil, persista e
encontre apoio. Mas se você sentir que não dá mais, tudo bem também. Só VOCÊ
sabe o que é melhor pro seu filho. Não é a avó, não é o pediatra (patrocinado
pela indústria do “complemento”), não é sua sogra, não é sua irmã, SÓ VOCÊ.
E é isso gentem...consegui manter o aleitamento EXCLUSIVO da
minha Duda 6 meses.
Eu to glorificando em pé.
“Deus é bom pra mim, Deus é bom pra mim, seguro estou,
contente eu vou, Deus é bom pra mim”.
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