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Esse aqui é meu espaço terapêutico, de rir, de refletir. Entre e fique a vontade, é tipo a sala da minha casa numa tarde de café com bolo de fubá!

15 abril 2016

Relato de Amamentação

Ah amamentação...
Sempre tive medo dela, pavor, pra ser mais sincera. Até mais do que do próprio parto.
Sentia muita sensibilidade nos seios e isso me apavorava, ainda mais em pensar que um bebê faminto me solicitaria de hora em hora.
Durante a gestação, conversei sobre esse medo e pavor com a minha super doula Valentine. Ela, sábia e tranqüila como sempre, me disse “Você terá que buscar informações e se empoderar assim como fez com relação ao parto”. E ok, fui buscar informações e me empoderar também na amamentação.
Nesse tempo, pessoas me contavam mitos e lendas sobre como preparar o seio para amamentar. Eu aprendi que não há “preparo”. Casca de banana, passar bucha, fazer bico e etc, não, não, nããããooooo. Esses mitos pra mim, se equiparam aquele lance de manga com leite, não lavar cabelo durante os 40 dias do resguardo e blá blá blá. Haja habilidade, tipo Matrix (o filme), pra se desviar dessas coisas aí.
O que ajuda a se preparar? INFORMAÇÃO. Onde achar? Conversando com profissionais atualizados, lendo e estudando materiais atualizados, entrando em grupos de discussão sobre amamentação e tem um perrrrfeito chamado GVA (Grupo Virtual de Amamentação), também conversando com mães que amamentaram seus filhotes até os 6 meses pelo menos.
Muito que bem, Duda nasceu e logo depois ela quis abocanhar o seio, tanto que contei no relato de parto que isso ajudou a dar contrações para que a placenta também pudesse nascer. A minha parteira, Alana, me ajudou nesse primeiro momento, colocando o bico do meu seio na boquinha da Duda. Ardeu gente, como ardeu. Lembro que eu falava:
- “Au au au hummmmm”.


Ok, toda a equipe foi embora após o parto e eu pensava:
- “Meu Deus será que eu vou dar conta de amamentar essa menina? Será que eu sou capaz?”.
Ao mesmo tempo eu pensava:
- “Eu consegui parir, sou mulher, sou a máquina humana mais perfeita que Deus poderia fazer, então eu posso sim, vou conseguir e a Duda vai ajudar”.



As próximas duas semanas foram muito decisivas para que eu conseguisse amamentar.
Primeiramente decidimos que não iríamos receber visitas no primeiro mês e que gostaríamos de viver nossa “Lua de Leite” (sabe aquele lance da lua de mel que o casal quer ficar sozinho? Entãããão, éramos nós com a nossa Duda). Essa foi a primeira decisão mais acertada que tivemos para o sucesso da amamentação. Muitas pessoas se ofenderam, acharam frescura, ficaram chateadas e infelizmente não pude e não vou fazer nada quanto a isso hahahahahahahahahaha azar de quem ficou de biquinho e obrigada aos amigos e parentes que compreenderam e nos respeitaram, nos dando esse tempo precioso.
Precisávamos desse tempo pra estabelecer a amamentação, pra estabelecer meu vínculo com a minha filha, pra tentar entender a complexidade dessa primeira fase da amamentação. Poder colocar o seio da boca dela e verificar se estava correto, sem pensar no tempo gasto pra isso. Fazer careta e não verr caras de reprovação, chorar de dor sem incomodar ninguém, não ter que agüentar milhares de pitacos, ter meu marido só pra nós e superar também esse momento que não é fácil pra maioria das mulheres.
Todas as vezes que eu percebia que a Duda estava ficando novamente com fome, eu começava a chorar. Sabia que ia doer, que eu teria que agüentar. Meu seio em momento algum teve fissura, nem sangrou, nem o leite empedrou e também não tive mastite até o momento. Meus seios eram sensíveis mesmo, e o movimento de sucção da Duda, me fazia sentir como se estivesse levando beliscões fortes nos bicos.



Em todos os momentos eu tive ajuda do meu companheiro de vida, o Du. Ele segurava a minha mão, me dava água (sempre me manteve hidratada e até hoje ele traz uma garrafinha d’água pra mim), me colocava numa posição confortável, me protegia de comentários e pitacos totalmente desnecessários e nunca pedidos. Várias vezes ele segurava a Duda, pra que eu pudesse me concentrar e não desistir de amamentar.
As únicas pessoas que sabiam na íntegra o que estava acontecendo era o Du, Valentine e eu. Não abri pra outras pessoas, porque a primeira coisa que ouviria seria “Pra que sofrer? Dá logo uma mamadeira pra essa menina. Eu fiz isso, a prima da amiga do cavalo do bandido também e ninguém morreu, ta tudo saudável”. Eu hein, sai pra lá. Sofrer sozinha, obviamente não é a solução, mas a minha rede de apoio estava bem fortalecida. Eu tinha uma doula magnífica que me tirava várias dúvidas via whatsapp e um marido que me apoiava e sabia que aquele era o meu sonho e o melhor alimento pra nossa filha.



Valentine me ensinou que deixar a água quente do chuveiro bater direto nos seios, aumenta a produção de leite e isso não era legal para aquele momento. Também me ensinou como verificar se a Duda estava fazendo a “boca de peixinho” (pega correta) e se não estivesse, me ajudou a aprender como retirá-la do seio, sem que ela esticasse fazendo tipo chiclete. Também me deu dica de que seria legal nesse início não amamentar em frente a televisão ou com o celular na mão, pois isso atrapalharia a formação do vínculo com a minha neném. Me ensinou como massagear os seios quando estivessem muito cheios, nada daquelas manobras horrorosas que fazem por aí, que eu tinha verdadeiro pavor. Ela sempre dizia “seja gentil com seus seios, massageie com carinho”. Ahhh Valentine, nenhum dinheiro do mundo, pagaria esse seu trabalho. Se as mulheres soubessem como isso é precioso. Vale muito mais do que aquela roupinha carérrima de saída de maternidade. Mas tudo é uma questão de valores.



Du, palavras são meras palavras, perto do sentimento de gratidão que tenho por tudo o que você fez nesses últimos 6 meses. Há momentos que tenho vontade de te matar, é bem verdade kkkkkkkkk mas voltemos ao assunto do relato. Você foi a pessoa essencial pra que esse processo todo fosse menos penoso. Como diz a música “como sempre estou, mais do seu lado que você”, e essa verdade se aplica também na amamentação. Não posso imaginar o quão difícil foi pra você me ver chorando, me ver soluçando, me ver com dor e mesmo assim dizer “Você consegue, só mais um pouquinho, ta tudo indo bem. Quer água? Você está confortável? Relaxa seus pés, deixa que eu te ajudo, ficar tensa vai fazer seu corpo doer”. Deus sabia que eu precisaria de você e te capacitou. Obrigada por acreditar que eu era e sou capaz disso. Obrigada por ter escolhido me apoiar, obrigada por me proteger dos pitacos de pessoas sem conhecimento.



Passadas as primeiras duas semanas, as dores foram diminuindo, fui sentindo cada dia mais prazer nos momentos da amamentação. A partir do momento que “saímos para o mundo”, na convivência com outras pessoas, fui ouvindo gente duvidando da minha capacidade de amamentação, mas também ouvindo gente dizer que amamentar é o ato de amor mais lindo do mundo. Gente me olhando de cara feia, porque nunca quis colocar “paninho” pra esconder que estava amamentando (essa foi uma escolha MINHA). Gente que me olhava com cara de ternura, demonstrando amor por aquele momento lindo.
Enfim, fácil não é, mas é possível. Não senti prazer no começo, mas insisti e persisti.
Não deixei e não deixo ninguém minar a confiança que tenho no corpo perfeito que Deus fez. Pedia o tempo todo pra Ele me capacitar, pra Ele me ajudar, porque eu sabia que era capaz de amamentar.
Posso dizer que sou imensamente feliz por ter escolhido amamentar a Duda exclusivamente no seio. Vivi momentos maravilhosos de alegria quando ela se jogava pra trás exausta de tanto mamar, ou quando se escondia debaixo do seio. Hoje estou vivendo aquela interação gostosa em que ela mama, olha pra mim, põe a mão na minha boca, sorri e me lança olhares de ternura. Todo aquele sofrimento inicial valeu a pena, não tenho duvidas.
Por agora começaremos uma nova fase, a introdução alimentar. Estou orgulhosa de mim por ter conseguido e com sentimento estranho porque minha bebê ta crescendo rápido e eu já vou começar a chorar...
Pronto parei, voltemos.



Informação gente, informação é tudo na vidaaaaa.
Procure pessoas pra te ajudar, pra te impulsionar, pra te apoiar, pra te auxiliar.
Homens, companheiros, parceiros, pais, vocês são uma das ferramentas essenciais pra que a mãe do seu filho consiga amamentar. Apoie, busque ajuda, a proteja de algumas pessoas, não duvide da capacidade da sua mulher, invista tempo e dinheiro nisso.
A vocês que cercam mulheres que estão tentando amamentar ou que já amamentam, por gentileza guarde os comentários toscos pra vocês, nenhuma mãe quer e nem precisa saber. Se você não tem nada de bom pra falar, se cale (até o louco quando se cala, se passa por sábio). Quer saber quais comentários toscos? Esses:
- xiiiii será que tem leite nesses seios pequenos aí?;
- ahhhh essa criança ta com fome, seu leite não é suficiente;
- seu leite vai secar se essa criança demorar pra mamar;
- esse neném tem fome demais, dá um “complementozinho” e você terá paz;
- deixa eu ouvir se tem leite descendo pela garganta dele mesmo;
- você tem que se cobrir, que falta de vergonha na cara expor seus seios;
Nuuuu são tantos os comentários, vou parar por aqui.
A você mãe que não conseguiu amamentar por N motivos, toda minha empatia e carinho.
A você mãe que está tentando e está difícil, persista e encontre apoio. Mas se você sentir que não dá mais, tudo bem também. Só VOCÊ sabe o que é melhor pro seu filho. Não é a avó, não é o pediatra (patrocinado pela indústria do “complemento”), não é sua sogra, não é sua irmã, SÓ VOCÊ.
E é isso gentem...consegui manter o aleitamento EXCLUSIVO da minha Duda 6 meses.
Eu to glorificando em pé.

“Deus é bom pra mim, Deus é bom pra mim, seguro estou, contente eu vou, Deus é bom pra mim”.